segunda-feira, 31 de março de 2008




OMISSOS E OMITIDOS NA HISTORIOGRAFIA: OS CIGANOS
RODRIGO GEVEGIR


PARA TODOS AQUELES QUE AMAM E PRESERVAM A CULTURA CIGANA ESSE BLOG É SEU PARA SUA PESQUISA


ALMA CIGANA


SOMOS AMANTES DAS ESTRADAS

SOMOS CASADOS COM A LIBERDADE


PEREGRINOS DO DESTINO

FILHOS DO VENTO


MÁGICOS CIRCENSES

DOMADORES DE ANIMAIS

PREDESTINADORES DA VIDA

VIDENTES DO DESTINO


BRUXOS MAGOS TEMIDOS

QUEIMADOS NA INQUISIÇÃO

PERSEGUIDOS PELOS CAMINHOS

DEGREDADOS DA VIDA


AMANTES DA MÚSICA

BAILARINOS NATOS

FERREIROS CALDEREIROS COMERCIANTES

SANGUE DE NÔMADES


FESTEIROS DA NOITE

COLORIDOS DE VIDA

SOMOS OS CIGANOS DAS ESTRADAS

COR E ALEGRIA


OMISSOS E OMITIDOS NA HISTORIOGRAFIA: CIGANOS RODRIGO GEVEGIR

OBRA REGISTRADA NA BIBLIOTECA NACIONAL

TODOS OS DIREITOS RESERVADOS AO AUTOR
INTERIOR DA CASA DE CIGANOS - JEAN B. DEBRET 1816

SER CIGANO


Em pleno século XXI, permanece ainda por demais fascinante a cultura cigana.
Ao ocultar-se dos não ciganos, sobrevivem em um sistema completamente á parte da sociedade, e ao mesmo tempo inserida a mesma. Ocultar-se, muitas vezes significa sobreviver, resistir, deixar de lado preconceitos seculares.
Ciganos, nômades e sedentários, cultura ágrafa, provindos da Índia, apaixonados por suas crianças têm na família sua base estrutural, sua devoção a seus idosos que representam suas histórias vivas, hábeis comerciantes, artistas e músicos. É isto que se deve conter em um dicionário, quando procurarmos pelo significado da palavra “cigano” e não a de trapaceiro, ladrão e perigoso á sociedade.
Lembremos que se há um ou outro elemento errante como há em qualquer etnia, não se pode com isso designar todo um povo (etnia), se assim for todos nós de todas as etnias teríamos inúmeras denominações, isso é preconceito.
O dicionário Aurélio já corrigiu está situação, o que a autora de origem cigana Jordana Aristicth
[1], já agradeceu e mencionou em sua obra, e hoje retificado com a menção:


“Cigano indivíduo de um povo nômade, que tem um código ético próprio, vive de artesanato, de ler a sorte e se dedica a música, homem de vida incerta”.


Parte do Brasil este gesto digno, de Aurélio Buarque de Holanda e equipe. Outro fato é que a enciclopédia Delta Larouse de n° 4 de 1972, cita serem os clãs ciganos totalmente comandados pelas matriarcas, o que, porém está incerto, pois a cultura dos ciganos é patriarcal.

Uma parte da bibliografia cigana no Brasil, não é direcionado ao contexto historiográfico, não se comprometendo como plano de base, problematização, crítica do assunto, a história, as fontes e dados necessários às pesquisas, as obras que servem como fontes de consultas confiáveis são poucas, mas ninguém pode fazer são ensaios, pois nos faltam documentos e a maior parte da história é de origem de fontes orais e não documentos. Os ciganos foram esquecidos pela historiografia brasileira e seus estudos começaram tardiamente.
No Brasil houve quem dedicasse tempos de suas vidas ao estudo e entendimento da etnia cigana, o que chamamos de ciganólogos. O pioneiro deles, sem dúvida e não podemos deixar de referi-lo nesta pesquisa, é Melo Morais Filho, a segui-lo José Benedito de Oliveira China, João Dornas Filho, Adolpho Coelho, este último não nos apresenta um rigor científico e sim efeitos literários. O que temos em termos de pesquisas iniciais no Brasil, vindas diretas de ciganos, são informações anteriores á segunda metade do século XIX, informações estas orais de ciganos, que observaremos no decorrer do trabalho, Melo Morais Filho
[2] trabalhou com estas importantes fontes, mas com possibilidades de incerteza dos dados, pela parte dos ciganos, repito a historiografia os omitiu, e documentos em sua maioria são de preconceitos e expulsão o que será esclarecido mediante a pesquisa.
Hoje principalmente na Europa, observaremos a interdisciplinaridade atuando na reconstrução da história cigana, áreas estas atuando com as ciências sociais e humanas.
Há também inúmeros outros livros denominados sobre ciganos, mas que se refere ao mítico e ao sobrenatural, uma nova religiosidade cigana que cresce a cada dia no Brasil vivido por não ciganos, lembremos que ciganos não representam uma religião e sim uma etnia vivendo espalhada pelo mundo.
Ao abrir a porta desse vasto tema sem de modo algum esgotar nestas páginas todo o assunto, busca-se passar um olhar científico, a lembrança de um Brasil com veias de vários povos e culturas. As raízes brasileiras, tão mencionadas em “Casa Grande e Senzala” de Gilberto Freire, o índio, o ibérico e o negro, mas há também o espanhol, o judeu, o árabe, o cigano e outros, transformando em gotas de sangue a correr em nossas veias, criando inúmeras e diferentes faces nesta salada de miscigenação.
Conglomerados ciganos já existiam na Índia desde 1500 a.C. após inúmeras invasões dispersam-se para outros regiões, começa assim a diáspora cigana em 1000 d.C.
Sua religião original era outra certamente ligada ao hinduísmo, e perdida com o tempo, hoje cada cigano assimila a região do país onde vive, havia castas ciganas na Índia de parias locais, castas estas de apresentavam ofícios como domadores de animais, videntes, e forjador de metais.
Entre os séculos X e XI da era cristã, se subdividem em dois grupos: um para a Ásia Ocidental, Arábia, Turquia, Síria, Palestina e outro para o império Bizantino.
Chegam ao mundo Bizantino e na Europa no século XIV, já se encontra inúmeros relatos, narrativas, sobre viajantes do Oriente ao Ocidente que mencionam a estranha população sob tendas.
Passaram pela Grécia, Chipre, Rodes, Corfu, Negroponte. No século XV á XVI já estavam espalhados por Europa. Na Moldávia e Valáquia, hoje atual Romênia, foram escravizados em 1370. Em meados do século XIX, em 1885 cerca de 200.000 mil ciganos foram libertados da escravidão na Romênia.
Noticias de ciganos eram datadas chegando à Hungria (local do mundo onde a língua cigana é mais preservada
[3]), na Alemanha em 1417, 1422 na Bolonha e em 1427 estavam acampados em pontes de Paris, deixaram sinais de passagem na Rússia, Polônia, Inglaterra e Suécia no final do século XV, final da peregrinação na Europa. Uma das primeiras referências em Portugal, documental segura já data do século seguinte 1510, uma poesia de Gil Vicente “A FARÇA DAS CIGANAS”[4] estas primeiras notícias se misturam a tantas outras hostilidades da população portuguesa, o que se prorrogará por tempos junto a perseguições.
Segundo fontes documentais que serão mencionadas ao decorrer destas páginas, os primeiros ciganos oficializados a chegar ao Brasil, datam de 1574, degredados de Portugal, mas há estudiosos do assunto que acreditam que possivelmente com o descobridor, na frota de Cabral, os sete homens integrantes da capitania portuguesa vindos na viagem, homens de origem indiana, provavelmente seriam ciganos.
Mas é no final do século XVII é que vemos por total, os degredos de ciganos para o Brasil, chega o grupo denominado Kalons, ou seja, os primeiros ciganos a chegarem as Terras de Vera Cruz, o Brasil.
Em 1822 em diante, ou seja, da emancipação política chegam os ciganos do grupo Rom extra ibéricos, chegam já assimilados ao catolicismo.
No Brasil, essa etnia, os ciganos veneram N.S Aparecida, sua padroeira no país. A N.S. Lâmpadosa, a Santa Ana (Mãe de Maria) que chamavam carinhosamente de cigana velha e Sara Kali, padroeira de todos os ciganos do mundo, mas conhecida principalmente e cultuada pelos ciganos europeus, no Brasil o culto a Sara Kali se fortificou mais recentemente, celebrada em Saites Maries de La Mer na França nos dias 24 e 25 de Maio, onde acontece uma verdadeira peregrinação, ciganos de todo o mundo estão presentes.
Em Maio de 1997, o papa João Paulo II, beatificou o cigano Beato Ceferino Gimenez Malla (El Pelé).
Na Hungria os ciganos recitam uma antiga oração que fazem a virgem, esta oração é feita periodicamente:
“ Doce Deusa, daí-me saúde, Santa Deusa, daí-me felicidade e graça, para onde quer que eu vá; socorrei-me poderosa e imaculada, dos homens feios, para que eu siga nas estradas até ao lugar que destino; socorrei-me, Deusa; não me abandone, Deusa porque oro pelo amor de Deus.”
[5]

Neste percurso dos ciganos, de sua saída da Índia ao resto do mundo, há ainda hoje inúmeras outras hipóteses até mesmo entre os próprios ciganos, que em um mergulho de mitos, dizem se originar do Egito, o que Voltaire dizia serem descendentes dos sacerdotes da Deusa Ísis, misturados a seus adoradores, Vulcanius Boaventura em seu livro “Litteeris et Língua Gelarum et Ghotorum” (1967), diz os ciganos se originavam da Núbia, na África. Outros autores os consideram autênticos judeus, como o alemão Wagnseil, em 1700, sustentava a tese de semelhanças físicas o que não há nenhuma consistência, com certeza improvável. Jean Paul Clébert, em seu estudo aprova a origem indiana aos ciganos, pois encontrou semelhanças lingüísticas e raciais.
O cigano chamado Toti Steinberger, na época com 43 anos, em 1975 afirma serem os ciganos descendentes diretos da Rainha Nefertiti, a princesa egípcia (1475 á 1321 a.C), Steinberger representava os três clãns na Europa: Manuches, Rons e Sisti, Toti Steinberger se denominava l´der destes grupos, é e importante saber que não há reis nem rainhas na cultura cigana, Steinberger para expor tal informação ele se dirigiu ao Vaticano, com a finalidade de certa projeção particular de seu domínio e influência de seu povo com trailers onde Mercedes-Bens os puxavam com grande quantidade de ciganos dos grupos acima referidos.
Há algumas lendas também que tenta explicar o surgimento dos ciganos, uma delas seria que Caim, irmão de Abel, após matá-lo teria sido condenado por Deus a habitar sob tendas:
“(...) agora maldito és tu desde a terra, que abriu a sua boca para da tua mão receber o sangue de teu irmão. Quando lavrares a terra não te dará mais a sua força; fugitivo e vagabundo serás na terra (...) Caim saiu da presença de Deus e foi habitar na terra de Node, ao Oriente”
[6]

Outra história seria que ao se recusarem a dar abrigo a sagrada família em Belém, ao nascimento de Jesus, teriam sido castigados a vagar pelo mundo sem um lar fixo, outra que os ciganos teriam incentivado Judas a trair Cristo. Estas narrações fantasiosas nos esclarecem a forma usada para condenar e perseguir os ciganos, relatos que os não ciganos acreditavam profundamente e que usavam como argumento para repudiar um povo que teria segundo lendas, prejudicado a Jesus Cristo, imagine como estes falsos relatos formavam-se nas cabeças dos não ciganos, levando-os ao preconceito e repugnância dos mesmos e que horrores aconteceram por isso.
Há outra lenda que diz que uma cigana teria roubado o prego que seria fisgado no coração do Cristo em seu martírio (este cravo, ou prego que teria sido forjado pelos próprios ciganos) ela o fez por não mais agüentar ver o sofrimento de Jesus, daí a lenda que todos os ciganos poderiam possuir o que quisessem sem esforço, para os ciganos não seria pecado.
Com a dispersão dos ciganos para o resto do mundo, necessitaram de criar mecanismos para a sua sobrevivência, entre eles a esperteza e a omissão de seus costumes e de sua língua, o choque cultural era por demais entre os não ciganos e ciganos.
“Por aquilo que é imundo de natureza, não podes alimentar esperança; não há lavagem que torne o cigano branco”
[7]


Suas kumpanias, melhor caravanas, seguiam pela “Longa Estrada” homens á frente mulheres e crianças pelas estradas da vida, um caminho sem parada, sem destino, em suas caravanas não há solidão, pois os ciganos odeiam a solidão, deixavam seus contatos nas estradas á caravanas ciganas que por ali depois passassem, eram avisos deixados em tiras de panos, talhe de ossos, gravetos quebrados e amarrados de forma especial, daí a desconfiança de camponeses achando-se tratar de feitiços, de sementes do mal, do diabo, o que ajudou a formular a idéia de feiticeiros.
Os ciganos gostam da verdade que chamam de Caçimos ou Tchimos, não sonham com uma terra natal, pois na grande estrada Deus lhes deu o mundo, quando querem dizem grandes verdades.
O choque cultural fora demasiadamente forte no momento em que adentram a Europa, os ciganos enfrentam seu martírio e sua sina.
Ser cigano é também saber enfrentar os obstáculos de cabeça erguida e com uma postura de vitória e sobrevivência em cima de opressões, e esta força que faz este povo permanecer vivo, insistindo em sua preservação em pleno capitalismo desenfreado do qual vivemos, e se adaptar sem perder as tradições e suas raízes culturais e ancestrais, fiéis em seus ideais e seus costumes, é vencer o tempo, é permanecer igual como antes mesmo estando nos dias atuais.
Neste trabalho observaremos o trajeto dos ciganos de Portugal ao foco da cidade do Rio de Janeiro, realçando a participação do grupo Calon, na formação da cidade em sua participação a grandes momentos do Império, sua união e recepção com os brasileiros, sua fusão e assimilação em um continente chamado Novo Mundo, em seu clima tropical que desabrochariam os encantos e mistérios e superstições dos ciganos, de profissões de artistas á oficiais de Justiça, negociantes a bandeirantes, de ciganos ricos na corte a meirinhos, do Rio de Janeiro onde os ciganos se assentaram sobre brejos e mangues desvalorizados, o tempo da glória na corte brasileira mesmo sendo um criptocigano
[8]
Para entendermos melhor os ciganos devemos nos despir dos conceitos de etnocentrismo, moral, religiosos e tabus que nos são inseridos na sociedade, só assim poderá conhecer o cigano como realmente ele é, os verdadeiros ciganos que não mentem uns para os outros.

“A linguagem dos ciganos vem do coração, os quais vivem para o momento presente, enquanto para os não ciganos, a linguagem desempenha uma função mais cerebral ”
[9]

Assim são Yul Bryner, Charlie Chaplin, Rita Haworth, Gypsy Kings, Dedé Santana, Carequinha Jorge Sedala Gomes, Zurca Sbano, Wagner Tiso, Ana Rosa, Joaquim Cortez, JK, Castro Alves, Íon Voicu, Gyogy Csffra, Aladar Rasz, Carmem Maya, Django Reinhardt, Gitanillo de Triana, Mio Vacite e tantos outros, são os ciganos e seus “descendentes”, que se orgulham de serem simplesmente ciganos.




[1] Cit Aristicth, 1995, p.84.
[2] Melo Morais Filho pioneiro dos estudos ciganos no Brasil, os estudos ciganos na Europa também acontecem tardiamente, o estudo da ciganologia hoje é uma ciência interdiciplinar.
[3] Cit. Borrow, George, pág 19.
[4] Fala de um engano praticado por um cigano, diálogo entre quatro ciganas.
[5] Cit. Borrow, Geoge, pág. 20.
[6] Cit. Bíblia Sagrada, Gênesis, cap. 4, vers. 11 e 14.
[7] Ferdusi, Cit. Borrow, Geoge, pág. 05.
[8] Cigano de origem, mas esconde sua ciganidade por medo de preconceito, por posições sociais e cargos elevados sejam eles políticos ou artísticos.
[9] Referencias de Francisco Monteiro.


HOLOCAUSTO CIGANO

Na Segunda Grande Guerra Mundial, a perseguição e o extermínio dos ciganos, o holocausto nazista, cerca de 600.000 ciganos foram mortos em campos de concentração principalmente em Auschitz e Birkenau, além disso, avia 165 campos de trabalhos forçados.
Hitler e sua inspiração em Richard Wagner, compositor ultranacionalista, artista e político influente que pregava o anti-semitismo que unia a vida e a arte para a construção de um ideal de Estado Novo. Modelando-se na antiguidade, interligando arte, política e saúde. Hitler começa sua propaganda nazista, com uma espécie de maquiagem mental para o povo alemão, “arte é a saúde do espelho racial” esse era o slogan, devemos pensar no nazismo também como forma sociológica.

Judeus-------------------------------------6.000.000
Ciganos--------------------------------------600.000
Deficientes-----------------------------------200.000
Homossexuais-------------------------------100.000
Socialistas-------------------------------------50.000
Testemunhas de Jeová----------------------50.000

Total de 7.000.000 pessoas eliminadas
[1] acredita-se que outros 5.000.000 de vítimas foram eliminados por discordarem da política nazista. 12.000.000 milhões de indivíduos que perderam suas vidas por pertencerem a uma etnia, religião, facção política ou não serem fisicamente e mentalmente perfeitos[2].
Hitler declara:
“A guerra deverá ser de extermínio. Matem sem compaixão ou misericórdia todos os homens, mulheres e crianças de descendência ou de língua polonesa”
[3]

“ O anti-semitismo era professado por todos os grupos e associações que pregavam o nacionalismo militante, a expansão imperial, o racismo, o anti-socialismo e a defesa de um governo forte e autoritário”
[4]

Havia um campo de ciganos conhecido pelo nome de Bikernau, ali esteve grande quantidade de ciganos, todos foram exterminados em câmaras de gás, em uma única noite, cantavam e dançavam segundo a sua tradição para disfarçar a agonia final, para poder principalmente tentar distrair as crianças.
Para disfarçar a Cruz Vermelha, e convence-la de que tudo estava bem, ou seja, de que tudo ocorria perfeitamente os nazistas fizeram um cenário de ficção, os alemães diziam a comissão que os ciganos se encontravam presos por serem boêmios e vagabundos, não podendo assim transitar junto ao povo alemão, este campo dos ciganos ficava próximo ao crematório, causando forte odor e cinzas que cobriam todo o lugar, os nazistas colocavam cobertores, para disfarçar e não permitir ser visto o crematório, o que não adiantava
[5]. Esse sem dúvida foi o maior golpe contra o ego da humanidade civilizada até hoje visto. Primo Levi menciona:
“ Nunca antes tantas vidas foram extintas num tempo tão curto, e com uma combinação tão lúcida de engenhosidade, tecnológica, fanatismo e crueldade”.

Os cabelos de ciganos, judeus eram raspados para confecção de meias e cordas para navios
[6], suas famílias separadas, filhos longe das mães, marcados como animais em cativeiro, na campanha nazista Judeus e Ciganos contaminado toda a Europa, isto fora divulgado pela imprensa de Hitler em 1933. Em 17 de Outubro de 1939 Heydrich, sob o comando de Hitler proíbe os ciganos de abandonarem seus acampamentos, fora logo após feito um recenseamento e conduzidos a campos de concentração. Dachau foi um dos primeiros campos a recebê-los, sofreram duras medidas disciplinares eram elementos que para os nazistas não poderiam fazer parte da sociedade, um slogan de 1941 diz:

“ Depois dos Judeus, os Ciganos”

“(...) Nos campos de Dachau e Buchenwald, ciganas tomavam água salgada. O objetivo era avaliar quanto tempo conseguiam viver sob semelhante dieta. A esterilização foi largamente praticada, tanto em homens como em mulheres. Os detentos também foram objeto de estudos ditos antropológicos(...)”
[7]

A Gestapo recebe ordem meramente restrita informando serem os ciganos duplamente perigosos, prejudicando a causa nazista,
Em 1941, vemos uma deportação em massa de ciganos para Lodz, em Outubro de 1941, mais de cinco mil ciganos entre eles 2.600 crianças, frio, falta de higiene, sem ajudas médicas com tifo, onde são eliminados inúmeros adultos e crianças, os sobreviventes deportados para Chelmo e queimados nas fornalhas ou câmaras de gás.
Experimentos químicos, mortes coletivas e individuais, crianças ciganas e judias em um único grupo com gritos, separados de seus familiares eram crianças da Boêmia, dos Carpatos, do nordeste da França, da Polônia, da Rutênia, estavam a pele e osso com feridas infecciosas, bebiam água de cobertores lavados ainda úmidos, cobertores de pessoas que já haviam falecido de doenças sérias, isso causava estomatites cancerosas e putrefação da carne á boca, poderiam ser observadas em Auschwitz, os ciganos matriculados, num total de 20.933 mil e mais 360 crianças nascidas no campo de concentração no começo de agosto de 1944, quatro mil ciganos foram mortos nestes momentos, pessoas ajoelhadas imploravam pela vida sem resultado, os prisioneiros andavam sob seus dejetos até aos calcanhares, talvez estes dados sejam inferiores às cifras reais
[8].

“ As roupas eram marcadas por triângulos de diferentes cores, com a finalidade de identificar a procedência dos prisioneiros: O Triângulo rosa dos homossexuais; a dos prisioneiros políticos eram vermelhos; o dos assassinos verde; a dos ciganos e marginais preto; padres e testemunhas de Jeová era roxo; os judeus usavam estrelas de Davi “
[9]

Houve ciganos que traíram seu povo, é o caso do cigano de nome Flossenbürg:

“ O Kapo de nome Karl, era um sádico doentio Usava triângulo vermelho no uniforme, indicando que era prisioneiro político, mas, na verdade era um assassino. Ás vezes, durante a formação, esse detestável Kapo ordenava que abríssemos a boca e cuspia dentro. E quem fizesse expressão de nojo era assassinado na hora. Karl tinha um ajudante, um cigano alemão que não era melhor que seu chefe. Diziam até que era um condenado à morte por assassinato, mas escapara de ser executado. (...) Cada grupo de trabalho era comandado por um Kapo, um dia, pedi permissão ao guarda do meu grupo para ir urinar adiante nos escombros. Em um grupo estava próximo um Kapo que era cigano de Flossenbürg, o ajudante de Kapo Karl”.

Até em 1944, quinhentos e cinqüenta mil pessoas haviam sido mortas em Auschwitz, em meados daquele ano chegaria a aumentar trezentos mil.
No campo de Birkenau, as câmaras de gás queimavam messes a fio, mesmo estando no frio ou calor á fábrica da morte não cessava, começaram a criar covas para a cremação, pois os fornos não mais davam conta da mortandade.
Neste complexo a oeste de Birkenau cerca de cem judeus e quatro a cinco alemães faziam funcionar os fornos crematórios, nas câmaras de gás usavam o Ziklon B, efetivo apenas a uma temperatura de 27° graus centígrados, está era a triste tarefa dos prisioneiros, que eram obrigados a ajudar na monstruosa tarefa, sendo chamados de sonoderkommando (aqueles que recolhiam os corpos das câmaras de gás para queimá-los).
Neste campo os prisioneiros viviam nas piores condições como observamos no testemunho do cigano Franz Rosenbach (prisioneiro cigano de Auscwitz):
“_As condições eram terríveis, havia doentes nos barracões e ficava todo mundo junto. As crianças gritavam: Mãe tenho fome, quero comer e beber. Mas não podiam beber água por causa do tifo.”

Vinte e um mil dos Vinte e três mil ciganos mandados para Auscwitz foram mortos, Franz Rosenbach completa:

“_ Cada coisa... o que faziam conosco nos deixava
perplexos. Éramos espancados, chutados, humilhados sem saber o porque! “Não tínhamos idéia, só porque éramos diferentes...”

Os Nazistas passavam á propaganda dos ciganos serem anti-sociais, desprezando assim seu modo de viver e ser. Na noite de 2 de Agosto de 1944, acontece a mais apavorante noite de Auscwitz “o massacre cigano”. Repletos de gritos, choros, sons apavorantes, muita fumaça dos crematórios, choravam, pois sabiam para onde estavam indo, assim relata o ouvinte Wladyslan Szmyt (prisioneiro em Auscwitz).

“_ No campo dos ciganos, estes se defendiam até o fim mordiam, arranhavam os alemães, se defendiam como podiam, as crianças eram jogadas em caminhão, se pulassem seus membros eram quebrados braços e pernas para não mais saírem dos caminhões.”

Em outono de 1944 quase todos os ciganos haviam sido exterminados de Auscwitz.
Havia as pesquisas do Dr. Josef Menguele, nascido na Bavária, atuou como autor teatral na adolescência, com lucros do qual doou a orfanatos, seu pai era engenheiro industrial, Menguele desde novo mostrava aos amigos não querer apenas o sucesso, mas se destacar dos demais, da multidão. Em sua formação era fascinado pela genética de anormalidades dominantes. Em 1937 se filia ao partido nazista, e logo depois a S.S, recebe nesta mesma época um segundo doutorado por seu trabalho. Em junho de 1940 é recrutado para o exército e as Waffen-SS.
Ao chegar a Birkenau, no dia 30 de Maio de 1943, Mengele era o médico chefe do campo das famílias ciganas. Se sobressai de outros médicos por sua ambição, crueldade, empolgação e carisma. Criava assim circo humano particular, para experiências.
Mengele selecionava gêmeos, corcundas, hermafroditas, anões, obesos em potencial, mulheres corpulentas (grandes), gigantes, cabeças de alfinete, qualquer anomalia de crescimento era quesito para a seleção de Mengele. Sua enfermeira particular Sara Nomberg Przytyk em Birkenau dizia: “ Aqueles que não foram criados a imagem de Deus”.
O Dr. Jan Cespiva (Ex-prisioneiro Auschwitz) diz:

“_ Pude ver com meus próprios olhos como ele Menguele infectava gêmeos com tifo na enfermaria do campo dos ciganos, para saber se os gêmeos reagiriam do mesmo modo ou diferentemente, pouco tempo depois eram enviadas as câmaras de gás.”

O Dr. Jan Cespiva testemunhou contra Mengele em 1963.
Com isso o polonês Wilhem Brose (prisioneiro Judeo) fotografou ciganos com faces gangrenosas.

O cigano Karl Stojka um cigano na época com 14 anos, chegara a Buchenwald, em meio a centenas de ciganos classificados por não serem aptos a trabalhar. Enviados em seguida para Auscwitz, o irmão e tio de Karl, falaram falsamente que ele era um adulto anão e não uma criança, por isso Karl Stojka sobreviveu e tornou-se excelente e famoso pintor.
O principal ponto em que toco nestes detalhes do holocausto, é que nunca devemos deixar de lembrar, não podemos esquecer estes fatos que marcaram a vida de milhões de pessoas que sobrevivem até hoje de gerações dos que se sacrificaram para terem o direito de sobreviver e os que não conseguiram merecem de nós o não esquecimento, para que seus sacrifícios não sejam em vão.
Por isso discordo quando muitos receiam em falar do holocausto cigano na Alemanha Nazista, na segunda grande guerra, mostrar sim ao mundo, que apesar de tudo, estão hoje os ciganos de pé, erguidos, vivendo sua cultura e tradição, preservando seu povo e mantendo suas tradições.
Em 1945, termina a carnificina evitável da Segunda Guerra Mundial
Os ciganos lamentam, por não participarem do processo de Julgamento de Nuremberg, não houve testemunhas ciganas, nenhum fora convidado para depor, dar seu testemunho
[10].
A pioneira nos estudos relacionados ao holocausto Cigano, foi Myriam Novitch, historiadora do Instituto Yad Vasem, no Brasil eu Rodrigo Gevegir elaboro esta linha de pesquisa como pioneiro.
O primeiro congresso cigano, fora realizado na Iuguslávia, em 1971, onde fora criada a bandeira cigana. O segundo congresso fora em Genebra afirmando a origem indiana para os ciganos.



















[1] Cit fonte: www.segundaguerra.cjb.net
[2] Cit. http:www.segundagrandeguerra.cjb.net.
[3] Cit Marrus, Michael R, 2003 p.40.
[4] Cit. Marrus, MichaelR, 2003 p.41
[5] Cit. Laks, Aleksander Henryk, 2001 p.89 e 90.
[6] Cit. Laks, 2001, p.86.
[7] Coleção II Guerra Mundial, 60 anos, Almanaque Abril: vol 02. São Paulo, 2005. p.38.
[8] Cit. Macedo Oswaldo, 1992, p. 77 à 87.
[9] Cit. Laks, 2001p. 97.
[10] Myríam Novitch é autora da obra L’ Extermination dês Tsiganes.

OBRA REGISTRADA NA BIBLIOTECA NACIONAL
TODOS OS DIREITOS RESERVADOS AO AUTOR




Hino dos Ciganos

Opré Romá!
Levantem-se ciganos!


Djelém, djélem lungòne droméntsa,
Viajei ao longo de muitas estradas,


Maladilèm barthalé Roméntsa,
E encontrei ciganos felizes,


Ah! Romalé, Kátar tumém avén,
Oh! ciganos digam-me de onde vem,


E tsahréntsa, barthalé droméntsa.
Com suas tendas, nestas estradas do destino?


Oh! romalé, ah! Chavalé!
Oh! ciganos, Oh! jovens ciganos!


Vi man sasí ekh barí famílija,
Eu também tinha uma grande família,


Mudardá la e Kali Lehíja:
Mas a legião negra a exterminou:


Avém mántsa as e lumnjátse romá
Venham comigo, ciganos do mundo inteiro,


Kaj phutajlé e romané droméntsa
Percorreremos novas estradas


Aké vrjamá ushtí Roma akaná!
É hora, levantemo-nos!


Amém xudása mitshtó kaj kerása,
É chegado o momento de agir,


Ah! Romalé, Ah! Chavalé!
Oh! Ciganos, Oh! jovens Ciganos!

















CIGANOS DENOMINAÇÃO: LÍNGUA E ETNIA

Mencionar ou registrar fatos sobre ciganos, certamente se torna difícil e requer uma busca de conhecimentos específicos e de longa pesquisa a ser realizada pois, estamos relatando uma cultura ágrafa da qual pouco se é conhecida, ou mencionada, os ciganos nunca registraram sua história em escrita, pois suas tradições sobrevivem pela forma oral de expressão, em alguns documentos ibéricos do qual ao decorrer do trabalho se apresentara, nos dará melhores informações desta etnia e sua chegada ao Brasil, é importante esclarecer melhor sua suposta origem étnica, sendo que se perguntarmos a cinco ciganos uma mesma pergunta, obteremos cinco respostas diferentes, cada um respondera a sua, uns dirão que vieram do Egito, Hungria outros de Belém, da Índia, outros que são os mais antigos do mundo os primeiros homens, outros até da lendária e mitológica cidade de Atlântida, a duvida da origem dos ciganos para os ciganólogos é o mesmo do surgimento do homem para os antropólogos.
Alguns documentos mencionam, a ida e vinda, deste povo de característica nômade, documentos muitas vezes em sua maioria de expulsão dos mesmos em seus territórios, acusados de conturbar a paz alheia. Por toda a história cigana encontraremos estes relatos de perseguições, e da necessidade do próprio cigano em mentir, omitir para os não ciganos ou Gadjes para preservar e defender seu povo, tão perseguido e torturado há séculos, a omissão muitas vezes significa sobrevivência para certas etnias, deparamos ai com o chamado corpo calado, um corpo da qual a historiografia brasileira nunca se preocupou em pesquisar e desenvolver a história dos ciganos, o que restou a pesquisadores e alguns ciganólogos que por amor e respeito à etnia, dedicaram anos de suas vidas a cultura cigana. Nos documentos que encontramos veremos claramente as expulsões para fora dos territórios, relações a esta etnia como os criminosos, os boêmios, os trapaceiros, os mentirosos, os descriminados, os banidos pela sociedade. Esse é o retrato dos ciganos em relação a grande parte das poucas fontes existentes tanto no Brasil como em qualquer outro lugar do mundo.
Apesar de inúmeras suposições de seu surgimento étnico, o cigano tem como origem a Índia
[1], o que nos faz supor a esta raiz indiana são as formas de trabalho e a restos lingüísticos, esses são os elementos bases, para supor a Índia como sua terra mãe. Indira Gandhi os reconheceu como legítimos indianos, pela pressão do governo Hindu e dos direitos humanos reconhecem se os ciganos como legítimos hindus no exílio, no ano de 1977, mas nunca se soube que nenhum deles houvesse retornado a suposta pátria. O autor Martin Block em seu livro Moeurs et Costumes Tsiganes relata que no século X, diz dirigir-se uma grande vaga de ciganos da Índia para a Ásia menor, quer dizer saindo da Índia, mas resta até hoje certo número de ciganos nascidos e vivendo na Índia.
Mas se torna muito forte também, sua passagem ou raízes pelo Egito, um grande número de ciganos dizem pertencer à linhagem dos faraós, Voltaire achava ser os ciganos “os degenerados descendentes dos sacerdotes da deusa Ísis, misturados com seus adoradores.” Em 1975, um cigano, que se intitulava líder do grupo Rom na Europa de nome Toti Steinberger, fora ao Vaticano e junto ao papa Paulo VI, anunciou serem os ciganos descendentes diretos da rainha Nefertiti, a princesa Egípcia, todos os encantos do Egito parecem realmente fazer parte dos ciganos que quando identificados por um de suas denominações Gypsies o que significa povo de vestimenta exótica provenientes do Egito, onde a musicalidade as danças e costumes também se assemelham as terras das pirâmides, conta se uma antiga lenda, que entra em contradições, que as 22 lâminas de um taro ou seja dos seus arcanos maiores, teriam sido entregues aos ciganos para fugirem as invasões que ocorriam no Egito, e para com isso não se perderem. Nas 22 lâminas
[2], estariam contidas todos os mistérios do homem e do espírito, fora entregues aos nômades por sacerdotes egípcios, e vão surgir na Europa tempos depois, misturadas entre as cartas do baralho ordinário, está lenda se enfraquece quando entendemos que as ciganas como quirologas, quiromantes e na Europa se tornam também cartomantes, mas não sendo tarológas ou seja usar o tarô em suas adivinhações. (O conhecido baralho cigano pintado a mão, pois cada família criava os seu, este sim era usado pelos rons). Outra lenda seria que os ciganos teriam escondido, Jesus, José e Maria na fuga para o Egito, pois os ciganos escondem alguém como querem como ninguém, e teriam aprendido a fazer o pão do qual se usa em suas tradições com Maria mãe de Jesus, esta lenda se depara contradizendo outra, que diz que José em Belém pede a uma família abrigo para o nascimento de Jesus, está ao negar a estada da mãe em trabalho de parto, nascendo o menino assim em um estábulo, seria esta família cigana amaldiçoada a peregrinar sobre a terra por negar abrigo a sagrada família. Mas tudo isto não passou de lendas e mitos que ajudaram as pessoas a terem mais preconceitos sobre os ciganos e a persegui-los principalmente na época em que a igreja predominava, o preconceito de serem amaldiçoados e de trazerem malefícios aonde chegassem, pois em lendas teriam desabrigado a mãe de Jesus em seu parto.
São os ciganos, denominados de vários nomes no percorrer dos caminhos, foram chamados os ciganos de boémios, egípcios, gitanos, ciganos, gypsies, filisteus, tártaros, faraónicos, mouro, romanichel, madjub, tsigani, calés, siculi, sicani, cingesi, sindi, sinti, agarianos, pagani, cingaríje, carasmar, romcali, astingi, daias, vangari, gadjar, secani, cinquanes, siah-hindus, calis, cad-indi, luri, sarracenos, zindi-calis, dandari, dardani, acigani, singuni, heidnen, kielderings, tartapakes, zingaro, zingari, zogoni, zeygeunen
[3] etc... Os verdadeiros etnônomos, cem nomes diferentes há um só povo, será correto alguém dizer que escreveu a história dos ciganos? Ou o que dispomos são apenas meros ensaios.
A conclusão da origem indiana para os ciganos, já acima mencionada, foi analisada através da linguagem e sua semelhança ao sânscrito, e línguas vivas do mesmo grupo indiano, tais como o Hindi, o Guzrati, o Marathe, o Cashemiri, os ciganos do grupo Rom falam o Romaní ou Romanês e os Catalães, Andaluzes Gitanos espanhóis e os ciganos portugueses falam o Kaló ou Calé, ciganos da península Ibérica, encontramos no percurso da história dos estudos ciganos, três importantes pesquisas sobre sua língua dialeto .
O primeiro o de Alexandre Paspati, pesquisador da fonética cigana e ciganólogo, Éstudes sur les Tchinghianés, publicado em Constantinopla em 1879, que confessa se conhecer a raça cigana (hoje o conceito de etnia), através do estudo de seu idioma, Paspati, junto dos ciganos que viviam temporariamente aos arredores de Constantinopla e da parte européia do império Otomano, acumula suficiente material, para iniciar seus estudos, uma pesquisa de tendas e não acadêmica, sua simpatia é clara, se tornando um querido amigo dos ciganos
[4], (mesmo sendo um não cigano considerado em um grupo de ciganos, mesmo assim nunca os ciganos falaram sobre toda a sua verdade ao amigo Gadjo, pois faz parte da sua preservação este fechamento étnico aos que não sejam de seu grupo), Paspati escolhe o romaní grego o que se torna uma importante obra, mesmo com uma fonética e etimologia insegura.
O segundo é o de John Sampson, The Dialect of the Gypsies of Wales, publicado em 1926, este bibliotecário de Liverpool, estuda por três décadas, era bem visto entre os ciganos que o consideravam um dos seus bons amigos, na Inglaterra da época, uma população cigana estabelecida no país desde o século XVII, e preservavam o idioma de seus antepassados.
O terceiro é de dois suecos, O. Gjerdaman e E. Ljungberg, The Language of the Swedish Coppersmith Gipsy Johan Dimitri Taikon
[5]em 1963, mencionam em sua obra o dialeto romanês dos Kalderasch, falado na Suécia, em 1940, língua de um povo iletrado sem uma correta maneira de se escrever.
Estes três estudos de aspectos importantes, nos ajudam a observar e identificar o romaní ou romanês em aspectos geográficos diferentes
[6].
O certo a se saber, é que a língua cigana funciona como uma espécie de sobrevivência deste grupo, e é dela que conseguem se expressar, uns com os outros sem serem entendidos, mesmo que um não cigano aprendesse a língua cigana, eles, os ciganos, teriam outras palavras com o mesmo significado, formuladas em seu vocabulário seria totalmente impossível de um não cigano compreender, para entendê-la deve-se nascer cigano.
Organiza-nos à tão vasta lista de supostas origens para o povo cigano, como Núbia, Babilônia, Fenícia, Egito, Palestina, Canárias, Assíria, mas a origem indiana do norte da Índia, é a mais aceita pelos ciganólogos como afirma o ciganólogo moderno Jean-Paul Clébert.
Mas quem não garante que a Índia seria mais uma parada dos ciganos em seu longo percurso, o próprio cigano diz que o mundo é a sua pátria, em um antigo verso cigano ele diz “Tenho minha casa no vento e, como o mar tenho no vento a minha glória”, buscam na liberdade sua maneira de viver.

“Rom nasci, Rom morrerei,
Aonde quer que vás há Rons
Quem tem vergonha da sua língua
Tem vergonha do seu sangue,
Percorreremos a terra
E Rons sempre seremos
Todos os Rons são irmãos”
[7].

Neste poema, acima descrito, vemos claramente o orgulho que os ciganos tem de sua etnia do seu grupo, de serem ciganos, ao mesmo tempo o não entendimento que sentem de alguns de sua origem negarem sua ciganidade, seja qual for o motivo, e nos esclarece que apesar da omissão, sempre existirão, não importando os acontecimentos nem que o gigante capitalismo os aperte em pleno século XXI, eles sobreviverão, porque os ciganos nunca deixarão de se orgulhar de serem simplesmente ciganos.
Os documentos que mencionam a saída dos ciganos da Índia são escassos e contraditórios, a lenda e a realidade se misturam, acontecimentos e lutas no noroeste da Índia, existindo pequenos reinos ao redor, tentavam emigrar para o sul, está migração deu-se com lutas entre si, houve diversas invasões nestas áreas, os Hunos Brancos, os Árabes e os Turcos, este último chefiado por Mohammed Ghur, dominando parte do território do Noroeste da Índia, deixando-a antes do ano 1000
[8].
Está dispersão se inicia com a conquista dos Persas no século III, Ardashir, Xá que reinou de 224 e 241 conquistou a área que hoje se denomina o atual Paquistão, pessoas se deslocam da Índia para a Pérsia
[9] para ali viverem, trabalharem, veio todas as classes de camponeses á músicos, tinham os ciganos a mesma língua e religião, alguns foram para o Egito[10], e com uma seita religiosa chamada de Atkingani, conhecida no império bizantino desde o século VIII, acredita se que o Deus Shiva, fora adorado pelos ciganos até terem o contato com o Cristianismo. Kali tal como Shiva, a deusa Negra era objeto de adoração de muitos indianos[11], Kalin também significa cigana e Kalon cigano, e Kalivo e Kalivirka significa homem e mulher negra, da etnia africana, no dialeto cigano, os primeiros ciganos devem ter chegado ao norte da Pérsia antes de 640.
O historiador Hamza ibn Hasan em Isfalini de Ispaham menciona a chegada de 12.000 músicos a Pérsia
[12], em 550, nos séculos X e XI esse mesmo fato e mencionado por Firdusi cronista e poeta no Livro dos Reis, o rei Sassânida Bahrãm Gor teria requisitado 12.000 músicos da Índia para a Pérsia seus descendentes seriam os que conhecemos como ciganos, formações de conglomerados, dispersos, de tribos nômades no norte da Índia antes de 1500 ªc. com inúmeras invasões, no século X, atravessaram a Armênia (palavras Armênias também fazem parte da língua cigana), pois houve uma integração aos comerciantes da região, a língua Armênia impregnou bastante o Romaní, fazem a sua diáspora cigana, comparada á dos Judeus.
Atravessam o Bósforo e adentram a Europa, estende se sua caminhada da Ásia para a Europa, relata o pesquisador Donald Kenrick, que está trajetória se deu quando a Peste Negra chega a Constantinopla em 1347, em 1390 os gregos são derrotados pelos Turcos, 10 anos após a batalha de Alepso, com isso são forçados, levados a emigrar pela Europa.

“Se os Rons soubessem o destino que os esperava na Europa talvez tivessem permanecido no Médio Oriente”
[13].

São três os principais grupos éticos ciganos:
Os Kalderasch, considerados os verdadeiros guardiões da cultura cigana, chamam se Rons, pois significa os homens modelos da espécie humana, subdivididos em grupos, Lovara, Boyhas, Luri ou Lovari, Churari ou Horarani, Matchuáia e os Turcos Americanos estabeleceram se na Moldávia, Valáquia e Hungria.
Os Gitanos, Kalô, ciganos ibéricos, diferem-se dos Kalderasch pela aparência física, dialetos e costumes, por seguirem percursos e caminhos diferentes assimilando assim particularidades que difere em sua cultura. Os Calons Catalães Portugues e Andaluzes estabeleceram se no Egito foram para a Espanha, Portugal, África do Norte e Sul da França.
Os Manouches, subdividem se em três grupos Valsikanês ou Sinti Franceses, os Gatshkanès ou sinti alemães e os Piemontesi ou sinti italianos, Italiotas estabeleceram se na Alemanha do Sul e da Alsácia.
Há também em nosso país os Calons brasileiros, chamados de Tropeiros, ainda nômades em pleno século XXI, onde perderam por demais suas tradições, e não são considerados ciganos por alguns outros grupos, que se denominam os verdadeiros guardiões da cultura cigana, mas os Calons Tropeiros são ciganos e há entre estes grupos uma enorme diferença em todos os aspectos do físico ao dialeto, houve uma junção da cultura cigana com a brasileira, em seus acampamentos dançam o forró e não as danças ciganas tradicionais, como o Romanés e o Flamenco a Rumba Gitana das quais já se perderam, alguns falam um dialeto chibiu, que contem palavras do romaní, sua gastronomia não se assemelha mais a culinária cigana, outro tipo de vestimenta que difere por demais das do grupo Rom etc. mas costumes como á família em primeiro plano, normas de casamento, morte, noivado nascimento estas permanecem, também há a introdução da miscigenação entre os Tropeiros do qual encontramos pelas cidades lendo a sina e negociando objetos de troca e venda, são na sua maioria nômades, que trazem seus dentes cobertos de ouro, e roupas coloridas com rendas retalhos de um colorido extravagante (por não ciganos são considerados como verdadeiros ciganos, pois permanecem em grande parte nômades no Brasil, e o grupo Rom em grande parte sedentária), o que se diferencia das mulheres do grupo Rom com suas suknias
[14] de estremo bom gosto e luxo que nos remete aos mais remotos tempos do oriente, suas condições socio econômicas se difere de grupo para grupo.

No Brasil os ciganos estão nas mais diversas posições sociais e profissionais.

Mas o grupo Calon português será o de maior comentário e observação em nosso trabalho pois foram os primeiros a serem degredados para o Brasil, a chegada dos ciganos e sua conjunção étnica e cultural, sua omissão ou omitidos no Rio de Janeiro, principalmente pela historiografia, hostilizados, perseguidos e castigados na História, mal interpretados e sempre postos a alguns erros cometidos à culpar toda uma etnia, tentam se manter em pleno século XXI, valorizando a virgindade, condenando a traição.

Isolados em sua cultura, um povo vivendo dentro de outra nação, o fechamento dos ciganos, o fez criar a fama de "diferente", o elemento que se difere da sociedade, o boêmio, o nômade.
Mas não podemos negar sua importância e participação na História do Brasil, chegaram ao século do descobrimento, século XVI, infiltrados nas terras de Vera Cruz, os ciganos viveram a Colônia, o Império, a República e até hoje permanece vivo mesmo que omisso aos não ciganos, se torna tema de reportagem, enredo de escola de samba
[15], tema de novela[16], o cigano está nos filmes, nas histórias de Drácula[17], no cinema e sempre estará no imaginário popular de um povo alegre, festeiro, dançante, e músicos, de um povo que está presente todo o dia, mas que parte ao amanhecer sem deixar pistas, para onde vão, se voltarão, ou se realmente estiveram ali, pois as fontes seguras documentais sobre ciganos são poucas, parte são imprecisas, e se resumem boa parcela em história oral.

“Ser Cigano é antes de mais nada, um estado de espírito”
[18].

Portanto este trabalho procura mostrar de forma acadêmica, a introdução dos ciganos no Brasil e seu contexto em um mundo não conhecido dos não ciganos, seu esquecimento na historiografia, sua anulação, tachados, marcados com um preconceito que vive até aos dias de hoje.

Hoje com novas proposta e intenções de mudar o conceito do cigano, o prêmio criado pelo governo de Luiz Inácio Lula da Silva, sob o Ministério da Cultura, Secretaria da Indentidade e da Diversidade Cultural, o concurso público de nome "João Torres" demonstra com certeza a importância do povo Cigano no Brasil como parte integrante e sólida de sua história.









[1] Muitos ciganos, negam que tenham vindos da Índia, e se orgulham em dizer que vieram do Egito ou da Grécia.

[2] Refiro me as Cartas de Tarô, e está lenda simbólica esotérica refere se as lâminas terem sido levadas à Europa pelos ciganos, os oráculos são tão antigos quanto o homem, o tarô consiste em 78 cartas, os quatro naipes, 56 cartas que são os arcanos menores e as 22 lâminas que seriam os arcanos maiores, o tarô fora identificado como fragmentos de um antigo livro egípcio, e Comte de Mellet esotérico e pesquisador, identificou o tarô como o livro de Thoth (Deus egípcio da lua e da sabedoria) , mas o certo é que a história mostra o contrário disto, os ciganólogos em seus estudos observando a saída dos ciganos da Índia, mostram que eles chegaram ao ocidente tarde demais para terem introduzido tais cartas. E o mais importante é que as ciganas não são tarológas, elas são cartomantes e quiromantes e jogam o baralho chamado ordinário ou seja o baralho comum, ou o de baralho de madame Lenomard, já em contato com a Europa Ocidental.
[3] Estes nomes estão relacionados por países que passam exemplo: na Espanha são Gitanos, na Itália são Zingaros, no Brasil Ciganos, nos Estados Unidos da América são Gypsies etc.

[4] Paspati consegue dos ciganos obter sua confiança para circulação dentro de seus acampamentos o que é difícil, pois os ciganos desconfiam dos não ciganos assim como os não ciganos desconfiam dos ciganos, ele consegue se fazer respeitavél e querido dos rons, sua pesquisa e dentro da vida cigana o que não obteria fora dela dentro de universidades o que seria por total fracasso tentar consegui-la (pesquisa).
Alexandre Paspati afirma ser`` A verdadeira história da raça tchinguiane está no estudo de seu idioma´´
( Cit. Fraser, 1998, p. 18 ).

[5] Português Sânscrito Hindi Rom Grego Rom Galês Rom Kalderasch

água paniyá paní paní paní paí
cabelo síras soná bal bal bal
pai táta tattá dat, dad dad dad
sol gharmá ghám kam kham kham

[6] Os ciganos são por demais inteligentes, muitos são poliglotas, falam vários idiomas, mas não o escrevem só falam, o que o nômadismo favorece a assimilação rápida de outras línguas, mas isso não interfere ao seu dialeto o Romanês, comunicam se entre si somente com sua língua, dialeto.

[7] Pema cigano:
Auzias, Claire. Os Ciganos ou o Destino Selvagem dos Rons do Leste, Lisboa Portugal: ed. Antigona, 2001.

[8] Kenrick, Donald. Ciganos da Índia ao Mediterrâneo, Lisboa Portugal: Centro de Recherches Tsiganes (Secretariado Entreculturas). ed. Interface, 1993. Pag. 10`` Da Índia à Pérsia´´.
[9] A Pérsia, foram para lá pela semelhança do idioma, do Hinduísmo, tratos de união entre os filhos e os Persas, surgindo possivelmente um grupo étnico novo.
Cit. Op. Kenrick, 1998 ``Havia uma relutância dos Persas em aceitar uniões com indianos.``
[10] Cit. Op. Moreno, p.18.
[11] `` Os Hindus acreditam que os ciganos são filhos de Rama, Rama é o eterno peregrino entre o passado e o futuro ´´,
Revista Planeta, n° 93 Junho de 1980, São Paulo. Texto de : Ednilton Lampião ``Um Povo Estranho a Magia dos Ciganos´´.
[12] Cit. Op. Costa (1996) afirma que as fontes documentais são exclusivamente Persas.
[13] Donald Kenrick, refere-se as perseguições e discriminações que os ciganos passaram na Europa, com penalidades e sacrifícios a rejeição por terem uma cultura por demais diferente, um grande choque cultural.
Os Rons chegam à Europa, chegando do Leste para o Oeste Europeu: 1348 Prizrem / 1362 Dubrovnik / 1373 Corfu / 1378 Mosteiro de Rilo Bulgária / 1382 Zagreb / 1348 Modon / 1397 Nauplie Grécia / 1407 Hildeshein Alemanha / 1416 Brosov Transilvânia / 1501 Lituânia / 1505 Escócia / 1513 Inglaterra.
[14] Suknias traje da mulher cigana dos grupos Rons, tecidos finos de estampados orientais, geralmente sedas, o mesmo tecido das saias é igual ao da blusa e do lenço da cabeça, com uma colocação especial da qual pode se identificar entre si pela simples forma de se ajeitar o lenço à cabeça, nestes trajes observamos moedas de ouro pingentes dourados, uma costura chamada casa de abelha nas blusas com mangas rainha, de um luxo e beleza inconfundíveis, saias de roda que levam metros de tecidos, que realçam em suas danças e em seus gestos ao caminhar, pois a mulher cigana tem uma postura austera e feminina ao mesmo tempo.
[15] Em 1992 foi enredo da Escola de Samba Unidos do Viradouro no Rio de Janeiro, com o enredo `` E a Magia da Sorte Chegou´´.
[16] Novelas da Rede Globo de televisão,`` Explode Coração ´´ , ``Pedra sobre Pedra ´´ , `` Sexto Sentido ´´ .
[17] Os ciganos nas histórias de vampiros sempre foram os guardiões de Dracúla, pois eram perseguidos como os vampiros e este os protegia em troca de serviços, observamos em Drácula de Brand Stock.
[18] Ático Vilas Boas, ciganólogo e professor de Literatura oral e folclore iberoamericano na Universidade de Goías, membro do centro de estudos ciganos de Paris e estudioso do povo.


CONTEXTO DOS CIGANOS EM PORTUGAL

Em Portugal os ciganos chegam pelas fronteiras. Vindos da Espanha dos matagais, pela fronteira da Extremadura espanhola que os escondiam das perseguições, simpatizantes do Alentejo, depois considerados como elementos nocivos, perigosos, ao lado dos judeus, significavam risco, ameaça à unidade espiritual do país.
Na era das grandes navegações e descobrimentos o catolicismo, significava o poder religioso no ápice das conquistas, não permitindo divergências em relação aos dogmas, e todos aqueles que infligissem às normas de uma legislação da qual o poder civil e religioso unidos em terras ibéricas, eram severamente castigados, distorcendo assim os princípios dos evangelhos pregados.
Os ciganos com suas crendices e superstições cheios de mistérios trazendo a leitura da sina, a crença no destino, nos esconjuros e receitas mágicas além de terem uma conduta diferente das leis do estado português, os ciganos eram livres e tinham suas próprias leis e regras. Sobre leis ciganas, existe a Krisromaní ou seja justiça cigana, onde absorvem e condenam dentro de suas próprias leis, este julgamento, um tribunal, é feito por Puranos ou seja os mais velhos homens, anciões, que para os ciganos são respeitados e honrados como fonte de sabedoria e conhecimento, um grupo étnico com suas próprias leis
[1], nas leis não ciganas são julgados atos e não valores, pois os ciganos julgam os valores, e depois os atos cometidos.
Eram considerados ameaças severas a Igreja e ao Estado, surgem daí os degredos dos ciganos para a África e Brasil, ao ponto de os ciganos serem enviados de Portugal para as galés e colônias. Somente por serem perturbadores da ordem, e dos dogmas religiosos, e enquadram-se na coragem ou seja destemidos e de estarem em uma condição de não poderem questionar e sim obedecer, enfrentado os primeiros obstáculos na colônia.

“(...) Crimes, libertar da metrópole de gente tão indesejável, furtar, esmolar, ser nômades, fingirem saber feitiçarias, falarem geringonça (língua própria), trajes ciganos, buena dicha (leitura da sina) serem ciganos, andarem em grupo (...)”
[2].

Certamente antes de 1750, houve entre os ciganos redeportações, depois de estarem no Brasil eram degredados novamente, malfeitores, ciganos se não procurassem uma vida correta e sedentária seriam deportados novamente para Angola
[3], mas é lógico que não era somente por mau comportamento, existia como até hoje o preconceito, e simplesmente por serem ciganos já era uma justificativa para despachá-los como nos mostra esta lista[4]:



(Idos do Rio de Janeiro)

Data Nome Idade Tempo a Cumprir Culpa

1726 João de Almeida 20 perpétuo cigano
1740 Antônio S. Farinha G. 21 perpétuo furto
1740 Raimundo José G. 21 perpétuo furto
1740 Francisco de Queiroz _ perpétuo cigano
1740 Cristovão G. de Queiroz 22 perpétuo furto
1740 Joana Alexandre 32 perpétuo furto
1740 Francisco da Cruz 15 perpétuo cigano
1740 André de Araújo 30 perpétuo em Benguela roubo
1741 Joana de Salazar 30 perpétuo cigana
1741 Maria de Salazar 10 perpétuo cigana
1741 Joana de Salazar 05 perpétuo cigana
1741 Maria da Encarnação 36 perpétuo cigana
1741 Manuel de Salazar 14 perpétuo furto
1741 Isabel Fernandes 40 perpétuo furto
1741 Inez Montanhesa 30 perpétuo furto
1741 Gabiella de Arede 40 perpétuo furto
1741 Margarida de Arede 16 perpétuo furto
1741 Maria de Arede 04 perpétuo furto
1741 Manoel Q. Queiroz 30 perpétuo furto
1741 Rosa ª Maia 40 perpétuo furto



Portugal fora um reino unido durante todo o século XV, sem guerras civis, sem contar é lógico com a Alforrobeira, em 1449, neste período vários países da Europa estavam envolvidos em guerras civis ou com o exterior, um importante fato neste período fora a tomada dos portugueses por Ceuta em 1415, inspirados nas cruzadas , queriam erguer a ira “divina” aos infiéis.
A lenda de Preste João, banquetes de trinta mil pessoas em mesas de esmeralda, doze arcebispos sentados a sua direita e vinte bispos, à esquerda, esse fantástico rei-sacerdote , se encontrado e unindo forças seria a chave para a vitória dos portugueses contra muçulmanos de origens moura, árabe, egípcia, turca e todos que propagassem contra a fé inclusive os ciganos que surgiriam em notícias em meados do século XV, logicamente antes já adentravam em Portugal, esses acontecimentos se esclarecem com as bulas papais apregoadas solenemente no período do infante Dom Henrique e seus sucessores, as bulas se espelham nas vontades do rei ou aos que o fizeram em seu nome.
Nelas o papa, manda o rei português a atacar aos pagãos, e aos chamados inimigos de Cristo, reter seus bens, escravizá-los perpetuamente, Dom Henrique, o soldado de Cristo, desejava, fazer, se conhecer o nome de Cristo Jesus mesmo em regiões distantes, forçar infiéis a se converter a igreja, vemos desde já a perseguição aos heréticos, não só por motivos religiosos é claro, mas pela dominação de territórios e conquistas de terras e do comércio além mar, e neste período na segunda metade do século XV, e que vemos por finalizada a peregrinação dos ciganos a Europa, neste momento de perseguições e preconceitos aos não cristãos ou aos que propagassem a fé pagã.
Também faz parte às perseguições dos ciganos na Europa, a concorrência com demasiadas profissões urbanas, artesões, caldeireiros, ferreiros, comerciantes, era difícil para o cigano enfrentar profissões já estabelecidas na região onde se encontravam, havia revolta por parte dos não ciganos, estes não eram agricultores não tinham terras na visão dos gadgés, concorriam até com mendigos e artistas, além do receio as mulheres ciganas, cútis escura, aspecto sujo, língua incompreensível, sem origem conhecida, sem religião, poderes mágicos, pragas, furtos, situações que levavam receio e medo às populações, se transformavam em ameaças políticas para o setor dominante, rural e urbano, havendo locais que se pagavam impostos para expulsão dos mesmos sem direito há não mais voltarem sobre ameaça.
[5]
O primeiro documento que nos remete aos ciganos em Portugal, já se data do início do século seguinte 1510, uma poesia de Luís da Silveira, do Cancioneiro de Garcia Rezende, onde relata o Engano, cometido por um cigano, e em 1521, Gil Vicente monta e apresenta sua notável peça, A Farça dos Ciganos, documento precioso, diálogo entre quatro ciganas Martina, Cassandra, Lucrecia e Giralda, palavras de pedinte das mulheres, caráter de sua etnia, dizem a buena dicha, cantam, dançam, e propõe-se a ensinar feitiços :

“representada ao muy alto e poderoso Rey Dom João III, em a sua cidade d´Evora, era do redemptor”
“Mantenga senhuraz y rosaz e ricaz
Da Grecia sumuz hidalgas por Diuz
Nuestra ventura que fue contra nuz,
Por tierraz estrañas nuz tienen perdidas”.
“Mustra la mano, señura,
Non hayas ningun recelo.
Bendiga te Diuz del cielo,
Tu tienez buena ventura,
Muy buena ventura tienez,
Muchuz bienez, muchuz bienez,
Un hombre te quiere mucho
Otroz te hablan de amurez.”.

Queixas formalizadas surgem sobre o povo cigano, isto nas Cortes de Torres Novas em 1525, se tornando o mais antigo documento legislativo contra o povo nômade: Alvará de 13 de Março de 1526, época de D. João III recusando à entrada e expulsão dos ciganos que forem encontrados sobre seu território, as hostilidades da população de Portugal irá se infiltrar, se misturar as primeiras notícias relatadas sobre os ciganos, e isso se perdurará por muito tempo. O estado para se livrar dos ciganos os perseguia a torturas até condenação á morte. Hoje em tamanha dimensão pode-se observar a falência histórica da política estatal para a deportação e expulsão dos ciganos em Portugal
[6].
Em Évora, 1535 há reclamações de furtos e males diversos, faz a corte em 1538 a promulgar nova lei, justificando e afirmando a expulsão e proibição dos ciganos e diz:

“Serão acoitados as pessoas de qualquer outra nação que forem vistas e a andarem como e com ciganos” .

Isso porque também sempre existiu pessoas que gostavam dos ciganos e os abrigava de alguma forma, ajudando-os essas pessoas não seriam expulsas mas degredadas. Em 17 de Agosto de 1557, nova lei retificando a já mencionada e acrescentando as condenações as galés. Dom Sebastião renova e permanece com a expulsão dando apenas trinta dias para que os ciganos se retirem de Portugal e fica sem valor as leis e licenças de permanências concedidas por D. João III. Já em 11 de Abril de 1579, D. Henrique concede licenças aos que:

“Vivem bem, trabalhem, e não sejam prejudiciais (...) mas,(...) não permitindo que vivam juntamente, senão em bairros apartados, e que andem vestidos ao modo português" .


Se agravando a condição dos nômades, no tempo de Felipe I de Portugal, se torna mais pesada à perseguição aos ciganos, mais um prazo é estabelecido para a saída dos mesmos de Portugal, de quatro meses, aos que insistirem serão sentenciados com pena de morte:

“Sem apelação, nem agravo...”

Torna-se desconhecida a aplicação desta lei, se tal lei estivesse sido seguida à linha, os ciganos teriam saído de Portugal para não serem torturados ou condenados.
Com as ordenações Filipinas, em 1603, com a expulsão dos ciganos, após penas nas Galés e também degredados para a colônia portuguesa na América e no final do século XVII observa-se o grande número de ciganos que são enviados a degredo para o Brasil (trocando assim nomes e trajes assimilando e adotando hábitos portugueses.), assim determina sua majestade D. Pedro, rei de Portugal e Algarves, título LXIV do livro V, epígrafe:

“Que não entrem no reino, ciganos, arménios, árabes, persas nem mouriscos de Granada”.

São indesejáveis a sociedade portuguesa da época.
Mas um século antes no reinado de D. Sebastião em 1574, é degredado para o Brasil, o primeiro cigano do qual se é registrado, o chamado João Torres
[7], prisioneiro na cadeia de Lisboa, condenado às galés em torno de cinco a seis anos, debilitado, doente e pobre, pede a comutação de sua sentença das galés para o Brasil, e para ali permanecer para o resto de sua vida e de sua família mulher de nome Angelina Torres e filhos.
Em 13 de Outubro de 1613, quinze dias para se retirarem, e proibir a transição de cartas de vizinhança a ciganos, cancelando as já existentes. Cria- se a nova fase das leis para os ciganos, uma delas é a deportação para territórios ultramarinos (1647), intensificada por Dom Pedro II, (Alvará de 15 de Julho de 1686), e continuada por Dom João V (Alvará de 10 de Novembro de 1708).
A diplomacia em 1686, se dirige a expulsão dos ciganos de fora e a permanência e recuperação dos que já são da pátria ou seja naturais das terras, filhos e netos de portugueses, daí também uma provável pequena parcela de miscigenação, mas com a condição de se domiciliarem, deixarem suas tradições nômades, não se vestirem como ciganos e não falarem sua língua e sim o português se tornem sedentários e que se cumpram trabalhos corretos e honestos a aculturação imposta pelos portugueses, que tentaram na verdade separar os bons e maus elementos julgados por eles sem grandes resultados, é lógico que os ciganos nunca deixaram de se comunicar em sua língua, como observamos parece realmente que as leis dos Gadjés não foram feitas para os ciganos.
Os Alvarás que datam de 28 de Fevereiro de 1718 á 17 de Julho de 1745, de Dom João V, relacionam –se a expulsão e deportação para as colônias portuguesas. Em 1800, se ordena a prisão de todos os ciganos sem domicilio, os filhos se separariam dos pais, enviados seriam a casa PIA, para serem instruídos na religião e conduta moral cristã, e nas obrigações com a sociedade, mais uma lei que ficou só nos papéis.
Os ciganos não foram elementos que mereceram a atenção da Inquisição em Portugal. Mas Ático Vilas Boas da Mota, ciganólogo, afirma que um dos motivos de os ciganos terem chegado ao Brasil, de forma sub-reptícia, fora fugindo as perseguições da inquisição
[8], heréticos e ateus partindo de um povo cheios de misticismo e esconjuros, somente é mencionado um processo de uma feiticeira acusada em 1682, de magia, e causadora de pestes e ela era cigana, o que muito difere da Inquisição em Espanha em relação aos ciganos que tem maior número de processos.
A Constituição Portuguesa de 1822, já no século XIX, e a carta constitucional de 1826 acaba com as diferenças e desigualdades em função de raça na época, hoje como já mencionada etnia, dando cidadania aos ciganos nascidos em Portugal, nota se como fora longo o tempo para se reconhecer os ciganos como cidadãos portugueses.
Os ciganos eram observados e seguidos, pela polícia, isto está na “Portaria circular de 18 de Abril de 1848, o regulamento da Guarda Nacional Republicana (GNR) de 20 de Setembro de 1920, arts. 182° a 185°” observação cautelosa aos ciganos e seus ataques e atos de pilhagem.






















[1] Hoje na prática, a Justiça Cigana se difere, não existe nenhum código secreto, na posse dos anciões. A Kris é apenas uma assembléia de conhecedores das normas da tradição, mas não um conselho de anciões, a não ser que tal possa coincidir, pois pode acontecer que jovens tome parte dele.(...) Pode se dizer-se que a Kris para o cigano tem uma função patente, que é julgar ou apreciar um problema, mas tem uma função latente, que é a coesão social´´.
Cit. Op. Nunes, p. 184-185.
[2] COSTA, Elisa Maria Lopes. O povo Cigano entre Portugal e Terras de Além Mar, Lisboa Portugal: ed. GTMECDP (Grupo de Trabalho do Ministério da Educação para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses), 1997. Pág. 22.

[3] No contexto africano, os ciganos, não tendo data certa de sua chegada, deixam presenças evidentes na Etiópia Meridional da Guiné, No códice do Arquivo Municipal de Luanda, Registros de Carta de Guia de Degradados para Angola (1714-1757), foram degredados, 67 ciganos, 49 homens e 18 mulheres, inseridos ao Exército e nas obras régias.
`` Bandos de ciganos de 28/02/1720, o senado da câmara de Luanda guiados pela coroa, proibia, que ciganos andassem de mantos, mas somente como se andassem em Portugal e no Brasil, sob pena de pagarem 4$000 reis cada um, metade para quem acusar e metade para as obras do conselho ´´ , ( A.H.C.M.L. Registro das cartas Patentes dos Governadores cartas Régias, Portarias, Bandos e Provisões de 1688-1724)
`` (...) Sendo macho, será condenado a acoite e trabalhos forçados nas galés, tratando se de fêmea seria degredada para Angola ou Cabo Verde, por toda a vida, sem levar consigo filho ou filha(...) ´´, Alvará de 28 de Fevereiro de 1720, Boletim do Conselho Ultramarino, Legislação Antiga, volume I, 1446-1754, p. 594.


[4] Costa, Elisa Maria Lopes. O povo Cigano entre Portugal e Terras de Além Mar, Lisboa Portugal: ed. GTMECDP, 1997, p. 62 .
[5] Alemanha e Holanda.
Em 1500 surge a lei de nome ``Dieta de Augusta´´ proibindo a passagem dos ciganos em terras Alemãs.
Nicolich, Conceição, op. cit, p.16.
[6] Esta falência está relacionada, ao grande número de ciganos existentes em Portugal, e a permanência dos mesmos preconceitos étnicos e culturais, colocando o cigano em uma visão marginal da sociedade,
[7] F.A Coelho, op.cit, p. 232, documento 5.
F.A Coelho, Os Ciganos de Portugal, Lisboa, Imprensa Nacional, 1892.
[8] Mota, Ático Vilas Boas da Mota, Contribuição à História da Ciganologia no Brasil, Goiania, Separata da Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Goiás, 1982.pág. 3 .
MAPA DA DIÁSPORA CIGANA

OBRA REGISTRADA NA BIBLIOTECA NACIONAL
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DEGREDO, CRIME E CASTIGO
OS PRIMEIROS CIGANOS NO BRASIL


``(...) para que não entrem ciganos no reino, e se saião os que nele estiverem; e diz quase o mesmo que a lei 24 das chamadas cortes, e de 26 de Novembro de 1538, e a ordem nova (Phillippina), liv.v.tit.69.no.pr.[1]´´

O triste destino dos degredados, sempre foi por demais difícil pois degredo significa a pena de desterro imposta pela justiça á criminosos, como forma de castigo, a pena de degredo era de desterrar e exilar seus acusados, ou seja os que sofriam as condenações, lógico que sabemos que as causas de degredo nem sempre foram crimes, os ciganos voluntários ou involuntariamente dirigem se para territórios além-mar, no Brasil o principal local de degredo era a Bahia e o Rio de Janeiro, os principais portos da colônia, sendo que o Rio de Janeiro passa a ser capital em 1763, onde os ciganos aparecem na cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, oficialmente.

“Portugal Lisboa 10 (...) Em execução das ordens de sua majestade tem vindo de várias partes do reino algumas partidas de ciganos, para serem conduzidos às conquistas deste reino, e se acham presos nas duas cadeias do Limoeiro de Lisboa Oriental em número de 101 pessoas, a saber 50 homens, 51 mulheres, além de 43 rapazes de ambos os sexos.
[2]”.

Desde 1603 nas Ordenações Filipinas, onde já havia degredo dos ciganos para a África, também seriam enviados para o Brasil.

`` Tendo resoluto que os ciganos e ciganas se pratiquem a lei, assim nesta corte, como nas mais terras do reino; com declaração que os anos que a mesma lei lhes impõe para África, sejam para o Maranhão, e que os ministros que assim não o executarem, lhes seja dado em culpa para serem castigados, conforme o dolo e omissão que sobre este particular tiverem.
[3]´´.

``(...) comunico ao Governador de Pernambuco, Francisco de Castro Morais, que os ouvidores podiam sentenciar os vadios, que infestavam a capitania com a pena de degredo para Angola, já havendo anteriores outras disposições régias providenciando não somente de livrá-la de tais vadios, como ainda dos malfeitores que houvesse.
[4]´´.

O Governador Duarte Sodré Pereira é elogiado e louvado por deportar gente tão ociosa e criminosa para a África (Angola), por carta régia, sendo que todas as despesas e gastos da ida sem volta, de ciganos, considerados inúteis, ao Tributo da Dízima.
[5]

`` Por carta régia de 1740 foi resolvido que vadios e sujeitos prejudiciais cujos crimes coubessem a pena de degredo para Angola, fossem deportados para ali a fim de servirem no exército ´´.

Como já mencionado, Angola serviu de palco para inúmeras deportações portuguesas, perdurou até que a Ilha de Fernando de Noronha fora determinada a ser presídio também para o degredo. O degredo, que terá seu fim em 1885, entre Continente e Colônias, somente Angola se difere pois terá o fim do degredo mais tardiamente.

``(...) Por ser tão importante a expulsão dos Ciganos, para bem do Reino, e com esse fundamento ter mandado, por vezes , fossem de todo lançados dele para as conquistas (...)´´
[6].

As ordenações Filipinas, se apoiam as primeiras constituições e regimentos, o do Santo Ofício de 1640 do livro III, contendo 74 títulos: Heresia, Judaísmo, blasfêmia, feitiçaria, pacto com o demônio, simonia, sacrilégio, perjúrio, falso testemunho, sodomia, adultério, concubinagem e muitos outros.
[7]
Mas é no reinado de D. Sebastião, é que vamos ver o primeiro cigano oficialmente registrado vindo para cumprir sua pena de degredo no Brasil, um século antes desde a resolução acima mencionada de 1603.
Essas resoluções teve como causas o aumento desenfreado da população cigana em Portugal o contingente populacional, uma longa e extensa lista de queixas iniciadas décadas antes nas Cortes de Torres Novas, hostilidades da população, retirar do território português os chamados inúteis, sem serventia para o Estado, furtos e outros malefícios, não respeitarem as leis do Estado português, serem considerados heréticos, vagabundos, boêmios e bruxos, levam o estigma de terem forjado os cravos da crucificação de Cristo e de não haver dado abrigo à sagrada família na fuga para o Egito
[8], tudo isto estava inserido na mente dos portugueses naquela época, além de serem um afronto para a Igreja Católica Apostólica Romana sendo considerados pagãos sendo um prato cheio para as condenações das galés e do Santo Ofício (apesar de não haver um regimento inquisitorial especificamente consagrado ao Brasil), a Metrópole desejava despejar nas terras coloniais seus criminosos, necessidade de purificação das almas errantes e pagãs:

“Misere mei Deus, secundum misericordiam tuam...Amplius lava me ab iniquitate mea, et a pecato meo munda me.
[9]”.

O sangue cigano, sua etnia, eram vistos como possuidores de espíritos malignos, vendedores de magias e difundindo crenças, apóstolos do demônio, e transmissores de peste, daí necessitavam de purgar seus pecados e serem limpos pela misericórdia de Deus e da Igreja e do Estado
[10].
Aprisionado João de Torres, sem provisões enfraquecido, debilitado de corpo e alma na prisão do Limoeiro, cadeia de Lisboa, condenado as galés a cinco anos, mas não podendo servir as causas do mar, muito pobre, pede sua atenuação de pena das galés para o degredo em Brasil, e será para não mais voltar, isso ocorre em 1574, com ele seria degredado sua mulher Angelina de Torres e seus filhos, lembremos que este é o primeiro cigano oficializado a chegar ao Brasil
[11], o que nos põe em dúvidas períodos anteriores, e os possíveis ciganos chegados com o descobridor os sete homens integrantes da capitania portuguesa, de origem indiana provavelmente ciganos, acreditam alguns historiadores, mas é somente no final do século XVII é que vemos por total os degredos de ciganos para o Brasil.
O cigano João de Torres nascido em Portugal, estava sendo inserido à colônia portuguesa e ao trabalho vigiado, pois os degredados eram entregues a vigilâncias que se encarregavam da vigia e do comportamento do degredado como em Portugal eram proibidos de manterem suas tradições, surgem para os ciganos no Brasil alvarás, decretos e leis, uma forma de vigilância e controle da moradia fixa a proibição de sua linguagem própria.
O cigano João de Torres, chega logo após o momento em que D. João III, Rei de Portugal denomina em confiança a Martim Afonso de Souza uma expedição iniciante ao Brasil, para domínio e segurança do território da colônia, cria se no Brasil, já de experiência dos portugueses, as chamadas Capitanias Hereditárias, complementada ao sistema de Governo Geral, isso nos remete as Atividades Predatórias, ao Conselho Ultramarino, aos Cristãos Novos, as Sesmarias, as Cartas de Doação, Foral e o Escambo
[12]. Isso nos faz entender que o cigano inserido a colônia como cristão novo, junto a mouros, judeus convertidos ao cristianismo ou se fazendo de cristãos, por ordem dos reis ibéricos, fizeram parte de todo este contexto histórico do Brasil, a historiografia esqueceu da figura do cigano.
Pelo tamanho do território brasileiro em 10 de dezembro de 1572, dividiu-se a colônia em Brasil do Norte e Brasil do Sul, o interesse pelo ouro, com início nas primeiras décadas do século XVI, traz os primeiros bandeirantes, entre eles os ciganos
[13] que foram os primeiros nesta fase chamada lavagem do ouro, observamos que na história oral dos ciganos no Brasil afirmam terem participado deste fato, e é uma prova de que outros antes de João de Torres estavam inseridos na colônia precisamente com nomes cristãos, Portugal financiava as Bandeiras[14].

“(...) se informará por si e seus oficiais dos ciganos que se acham neste Governo, para se conhecer onde pára uma quadrilha que assistiu, no Rio das Contas e me dizem que nela tem mestres de fabricar ouro falso, e os fará prender (...)”
[15].

``(...) e lhe peço pelas Chagas de Cristo mande exterminar fazendo, na mesma hora e tempo, pelas ordenanças fazer prender em todas as comarcas a quantidade e multidão de ciganos e conduzir ao Rio de Janeiro pelos seus bens, pois lhe não faltam peças de ouro, e cavalos, ainda que furtados, que se vendam e dêem para a leva, porque aliás estas Minas, padecem grande dano havendo pessoas a quem têm levado cinco e seis cavalos (...) ´´
[16].

No descobrimento do ouro nos fins do século XVII, nas Minas de Ouro
[17], encontramos a ida de ciganos para a busca do tão precioso metal, como já mencionado lembremos que a historiografia nunca se preocupou em relatar a história cigana no Brasil, daí a falta de precisas informações mais substanciais da chegada ou da presença real dos ciganos na corrida do ouro.

“Os judeus e cristãos novos, bandos imensos de ciganos, atiraram se para as terras ultramarinas, buscando a fortuna e a redenção na largueza dos sertões infindos, aonde dificilmente chegariam às importunações do Santo Ofício
[18]” .

Mas o fato de é de que os grupos ciganos chegam as Minas Gerais em 1718, desde o século XVIII é que veremos registradas realmente sua penetração no território do ouro.

A Produção de Ouro no Brasil
[19]

Anos Produção média anual em quilos.

1701 á 1720 2.750
1721 á 1740 8.850
1741 á 1760 14.600
1761 á 1780 10.350
1781 á 1800 5.450
1801 á 1820 2.750



Inês Mendes de Andrade, baiana, filha dos ciganos Francisco Andrade e Isabel da Mota, casou-se mais de uma vez na Igreja Católica Apostólica Romana, se fazendo de solteira, forjando falsos documentos prejudicando assim outras pessoas, seu primeiro casamento na Bahia e o segundo em Pernambuco, presa e enviada a Lisboa, condenada de volta a Bahia aonde nunca mais chegou.
[20] Havia a idéia de o Brasil ser apenas uma parada para os ciganos em suas deportações para a África, como observaremos que El Rey em 1718 decreta, Dom Lourenço de Almeida acrescenta em 15 de julho de 1723.

“(...) por ser hua gente muito prejudicial aos seos povos porque não vivem se não dos roubos que fasem, cometendo exacrandos insultos, e porque pelo descuido que houve el algua das praças da Marinha vieram para estas Minas vartas familías de ciganos, onde podem fazer mayores roubos que em outra nenhua parte (...)
[21]”.

Imaginemos a dificuldade de assimilação, de depararem se com uma terra nova diferente em todos os sentidos, em uma condição de criminosos, com mudanças de clima á alimentação, das pessoas as normas. Não só os ciganos acostumados à vida nômade
[22], como também para outras etnias enviadas ao Brasil Colonial, a deportação forçada fora difícil.
Um exemplo desta difícil assimilação, na época da primeira visitação do Santo Ofício à Bahia é o das ciganas, Violantes Fernandes
[23] (nome cristão português), Maria Fernandes e Apolônia Bustamente, não aceitavam o clima tropical, chove a tarde a abre o sol quente logo após, principalmente no norte e nordeste do Brasil, blasfemavam a Deus, não aceitando suas condições.

<<>[24]>>

Houve algumas anistias, perdões das penas para os degredados, isso ocorre também, com a chegada da Corte ao Brasil, os degredos perpétuos transformariam sua condenação em 10 anos, os de uma década pela metade seria reduzida, isso já no governo do Rio de Janeiro.
Os ciganos trocaram de trajes e nomes, fingindo adotar os hábitos portugueses, proibidos de usar seu dialeto e ensinar a seus filhos suas tradições.
Os avós e parentes do cigano Pinto Noites, degredados para o Rio de Janeiro
[25], acusados de furtarem, quintos de ouro, se estabeleceram em tendas no Campo dos Ciganos, (hoje área da Praça Tiradentes e Campo de Santa Ana) chegam com sua família e outros parentes, degredados, deportados, ou expulsos para outra cidade (estado) do território, ou seja para a praça na Bahia, também conhecida como Campo dos Ciganos, fixado da Rua do Cano a Barreira do Senado. Degredados do Reino, isso ocorre em 11 de Abril de 1718 é promulgado este decreto, alguns autores mencionam ser o Sr. Pinto Noites o degredado, o acusado do furto dos quintos de ouro, mas não foi, pois o cigano Pinto Noites já nascera na colônia portuguesa, chegando a alcançar longa idade no Rio de Janeiro. As nove famílias enviadas de Portugal, para a Bahia tinham como chefes de suas famílias (clãs):

`` Os Srs. João da Costa Ramos, Fernando da Costa Ramos, Luiz Rabelo de Aragão, Ricardo Fraga, Antônio Laço, Conde de Cantanhede, Manuel Cabral e Antônio Curto acompanhados de mulheres, filhos, genros e netos.
[26]´´.

Para entendermos melhor o degredo, sempre ligado em grande parte aos ciganos, constantes expulsões, nas suas caminhadas, expulsões estas às vezes não só arquivadas em documentos e com certeza feita com as próprias mãos, a repulsa de aceitação a um povo tão diferente e livre que tem sua extravagante, boêmia e ``sem compromisso
[27]´´ maneira de sobreviver, de ser, houve na verdade um grande choque cultural com a infiltração dos ciganos na Europa, e uma importante participação não documentada no Brasil, pelo fato de se omitirem para os não ciganos sua ciganidade, e de serem omitidos pelos gadjés que sempre os conciliou por ladrões e gente sem mérito sem confiança, é importante que pesquisadores e historiadores não condenem uma etnia inteira por agravo de um ou mais ciganos que tenham cometido delitos, tendo o cuidado de ao mencionar um grupo étnico, não colocar em totalidade todo um povo, e o caso que me refiro como um dentre tantos, o exemplo do historiador respeitado merecedor de reconhecimento de nossa parte mas que em sua obra ``Os Bestializados´´ José Murilo de Carvalho[28] inclui em classes potencialmente perigosas os ciganos comentário, mencionado no século XIX, diz sobre o recolhimento dessas pessoas em casas de detenção, o que não há nenhuma procedência policial de ciganos presos neste período, principalmente porque os ciganos não vinham taxados a fronte como ``sou cigano´´ .

`` Esta população poderia ser comparada às classes perigosas ou potencialmente perigosas de que se falava na primeira metade do século XIX. Eram ladrões, prostitutas, malandros, desertores do Exército, da Marinha e dos navios estrangeiros, ciganos, ambulantes, trapeiros, criados, serventes de repartições públicas, retoeiros, recebedores de bondes, engraxates, carroceiros, floristas, bicheiros, jogadores, receptadores, pivetes (a palavra já existia). E, é clara, a figura tipicamente carioca do capoeira, cuja fama já se espalhara por todo o país e cujo numero foi calculado em torno de 20 mil às vésperas da Republica.´´
[29]

Parabenizo a autora Doutora em História Social, a professora Monica Velloso, em sua obra ``Que cara tem o Brasil ? As Maneiras de Pesar e Sentir o Nosso País´´ , fala dos sucessos dos ritmos de origem negra, latina e cigana sendo cada vez mais admiradas, e também dos trabalhos não reconhecidos pelo trabalho formal:
`` Há uma legião de trabalhadores sobrevivendo à custa de profissões as mais diversas, como ciganas ledoras da sorte, tatuadores, selistas, caçadores de rato, trapeiros, vendedores ambulantes. Essas são estratégias de sobrevivência que apesar de ignoradas pelas estatísticas oficiais, fazem parte do cotidiano dos cidadãos.
[30]´´

Devemos nos ponderar quando falamos das minorias, nelas encontraremos pessoas ocupando cargos importantes, e fazendo parte de uma formação nacional, mesmo que fosse como criptociganos
[31], que se omitem por este tipo de visão relacionado a um povo que tem como todos os outros os bons e os que chamamos de maus, não podemos generalizar.































[1] Alvará de 13 de Março de 1526.
E de 26 de Novembro de 1538.
[2] Gazeta de Lisboa, 10 de Março de 1718.

[3] Documento Lei da Comutação do degredo da África para o Brasil, resolução de 1686. F.A Coelho,
Os Ciganos de Portugal, Lisboa, Imprensa Nacional, 1892, p.253, documento 23.

[4] Anais de Pernambuco, vol V (1701-1739) Recife Arquivo Público Estadual ``redeportação dos ciganos, 21 de Julho de 1704.

[5] Carta régia, de 5 de Junho de 1731.
[6] Biblioteca da Ajuda (BA) ``Carta de 30 de Julho de 1652, de D. João IV para o Visconde de Vila Nova de Cerveira´´, Cod. 51X-19, f. 69.

[7] Pieroni Geraldo, Vadios e Ciganos, Heréticos e Bruxas. 2000 Bertrand Brasil; pág 120. E os ciganos enquadravam as constituições do santo ofício, se na condição de heréticos, bruxos, feiticeiros, possuidores de formulas mágicas etc.

[8] Bíblia; Mateus, Cap.2 vers.13 a 15. Lembremos também que os judeus sofreram perseguições, acusados de crucificar o Cristo, o que fora motivo de ódio de tantos em relação aos judeus.

[9] Miserere, Salmo 50.

[10] Gevegir Rodrigo; Mistérios Encantos Magia, Ciganos; Rio de Janeiro, JONAERJ 1997. Pág.15.

[11] Não se é garantida a chegada realmente de João de Torres ao Brasil com sua família, pois não há continuação de relatos sobre sua história na colônia, há uma hipótese que não se descarta da negociação do cigano com as autoridades suborno, contar apenas seu nome e de sua família nos laudos de vinda ao Brasil e com isso teriam fugido para outras regiões de Portugal, mudando de nome, mais uma camuflagem cigana.

[12] Escambo, comércio ou troca, entre europeus e indígenas, trocas estas de miudezas por pau-brasil.

[13] Nicolich, conceição, op.cit, p.20.
Os ciganos participaram dos ciclos sócio econômicos do país, pau Brasil, cana de açúcar, ouro, café, das guerras de invasores na gesta das bandeiras.
[14] Entre os próprios ciganos, principalmente os de Minas Gerais, em sua história oral, contam com afirmação serem os primeiros bandeirantes, pois Portugual oferecia títulos de nobreza a quem encontrassem Minas do precioso metal. Mas em 1693 se descobre muito ouro em Minas Gerais, nestes locais em menos de quarenta anos, criava se dezenas de vilas, povoados, igrejas chafarizes, administradores, artesãos, grande quantidade de escravos, o ouro trazia o desenvolvimento, esses bandeirantes eram vindos principalmente de São Paulo e Rio de Janeiro. Jazidas encontradas no final do século XVII, uma abundância do metal, faz mecanismos de fiscalização criados pela Metrópole, o chamado Regimento do Ouro, casas de fundição, pagamentos do quinto uma forma de imposto 20°/° mas observaremos que o grupo Rom só chagará em Minas Gerais em 1835. O cigano Jan Nepomusckh Kubitschek atendendo pelo novo nome de João Alemão fora o Rom que mais cedo chegou as Minas Gerais, vindo da Boêmia parte na época do Império Austro Húngaro, teve dois filhos com uma não cigana de nome Teresa Maria de Jesus, com a união dois filhos João Nepomuseno Kubitschek, alto político em Minas, e Augusto Elias Kubitschek comerciante em Diamantina, teve uma filha chamada Julia Kubitschek quando ele fora subdelegado de polícia, Julia Kubitschek é a mãe de Jucelino Kubitschek o presidente do Brasil que tinha em suas veias o sangue cigano, era decendente do povo Rom.
Veja Pereira, C. Gli Zingari in Brasile. Lacio Drom, Roma, anno 26, p. 3-5, novembre-decembre 1990, sobre a origem cigana dos Kubitschek; posteriormente passou se a chamar e a escrever Kubitscheck, colocando a letra C antes do K.
Monteiro, N de Góis (coord.), Oliveira, Jucelino Kubitschek, In: Dicionário biográfico de Minas Gerais; período republicano, 1889-1991, vol2, Belo Horizonte, Assembléia Legislativa do Estado de Minas Gerais, 1994. P. 324, 325 e 477.
APM, Secretaria de Policia (doravante SP), Chefia de Polícia (doravante CP), Documentação Interna, Diversos, ex. 02,doc. 86, fol. 1.
Fonte: Teixeira, Rodrigo Corrêa, História dos Ciganos no Brasil, Recife, Núcleo de Estudos Ciganos, E-Texto 2000.


[15] Acusação ocorrida em 1736. COSTA, Elisa Maria Lopes, op. Cit,p.51e 52.
Há referencias a motins onde ciganos estariam contra as autoridades, acobertados por não ciganos, mineiros, protestos populares contra a ``bandeira´´ do capitão José Leme da Silva e irmãos culpados por açoitarem ciganos. E Tiradentes, Joaquim José da Silva Xavier, o pedestal da Inconfidência Mineira, teria mandado por várias vezes a tropa de assalto para serem presos e outros mortos.
Salteadores de estrada e de ouro na Serra da Mantiqueira, no século XVIII sob estes assaltos, havia sido formado sob comando de Tiradentes atacar estes malfeitores, prendendo e matando ciganos às dúzias ( Dornas Filho 1984,p. 14) um genocídio por recompensa e honrarias isso para um herói nacional. Ciganos desarmados, e trabalhadores, pois nestes documentos referidos a estes salteadores em momento algum mencionam o nome cigano, mais sim bandidos, mais uma vez a culpa para os nômades na história.
(Rodrigo Corrêa Teixeira, 2000, cit. 4)
[16] Carta de 7 de Maio de 1737, direcionada para o Governador Martinho Mendonça.
De Manuel Dias Torres para o governador, Manuscritos do Brasil, liv. 13 ( Arquivos Nacionais/Torre do Tombo (AA/TT).

[17] Hoje o estado das Minas Gerais.

[18] Lima Junior,ª de. A Capitania de Minas Gerais; Origens e Formações, Belo Horizonte, Instituto de História, Letras e Artes, 1965, p. 54.

[19] Cifras de Fredèric Mauro, Histoire de Brèsil. Paris, PUF, 1973, pág. 37.
[20] Auto da fé 10 de Abril de 1691 (Inêz Mendes de Andrade, 22 anos, acompanhada de seu filho recém nascido falecera no cárcere do Limoeiro Lisboa Portugal, onde estava presa para cumprir seu degredo
. (IAN/TT, Inquisição de Lisboa, processo 10291).
[21] Dornas Filho, J, Os Ciganos em Minas Gerais, Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais, Belo Horizonte, ano III, vol. III, 1948, p. 146. Bando de 15 de Julho de 1723 de Dom Lourenço de Almeida.

[22] Lembremos que o Brasil era por demais diferente da Europa, uma vegetação e clima opostos, uma floresta tropical fechada que oferecia inúmeros perigos, surge inicialmente uma certa dificuldade de ser nômade na colônia, além das proibições de viverem como ciganos. Mas com o tempo a resistência étnica vence e veremos acampados com o passar do tempo os ciganos no Brasil com seus costumes e tradições.

[23] Os ciganos ao nascerem recebem três nomes um que será no mundo dos ciganos, outra para o mundo dos não ciganos e o último que será soprado pela mãe no ouvido da criança nascida, pois só a mãe e o filho, a fase adulta da vida, geralmente após casado saberá seu nome espiritual, que o livrará das mazelas feitiçarias, magias pragas e feitiços do mundo dos vivos e mortos, mas na verdade é que os ciganos sempre necessitaram de Ter mais de um nome para os possibilitar de fugir de seus perseguidores e de não serem capturados em fugas.

[24] Alvará de 20 de Setembro de 1760.

[25] Essas viagens de degredo levavam, de Lisboa á Bahia (60 dias), de Lisboa até Pernambuco (70 dias), de Lisboa ao Rio de Janeiro (90 dias). Em uma carta de 20 de Dezembro de 1820, relata: ``(...) cada navio mercante é obrigado a levar para menos a Sexta parte de sua tripulação os degredados que houverem de passar a cumprir os seus Degredos no Ultramar (...)´´.
COSTA, Elisa Maria Lopes, op.cit, p.26

[26] Filho, Mello Moraes, Os Ciganos no Brasil e Cancioneiro dos Ciganos. 1886 Rio de Janeiro B.L.Garnier. Pág. 27.

[27] Na verdade a palavra sem compromisso, é uma forma livre mas com responsabilidade de sobreviverem e também de não se prenderem a mecanismos e regras que impedem o homem na visão cigana de ser feliz e interligado ao todo, não criar raízes pois para os ciganos a terra pertence a Deus e não aos homens que a demarcam e lutam até morrer por seus territórios, pela pátria, á pátria para os ciganos é o mundo.

[28] Carvalho, José Murilo, Os Bestializados. São Paulo: Companhia das Letras, 2002. P.18.

[29] José Murilo de Carvalho, descreva a citação acima mencionada tendo como fonte: Reis, Vicente, Os Ladrões no Rio, 1898-1903, Rio de Janeiro, Cia Typ. Do Brasil. Só que entendamos não são todos os ciganos maus elementos, daí se falar de ciganos estamos denominando toda uma etnia, que pelas formas pejorativas sofre até hoje discriminações que parecem estar infiltradas no subconciente de todos, falar em cigano não é sinônimo de perigoso ou ladrão, vamos mudar esta visão errada que temos de um povo que muitas vezes quem esta falando ou retratando- os não os conhece. Como esta acima relacionado alguns desertores da marinha e do exército, assim também deveria ser alguns ciganos não todos.

[30] Velloso, Monica. Que cara tem o Brasil? As Maneiras de Pensar e Sentir o Nosso País: Rio de Janeiro, Ediouro, 2000. Cit. P. 89, 92 e 93.
[31] Ciganos que por possuírem poder financeiro, prestigio, e altos cargos públicos, políticos e artísticos, omitem sua origem cigana para os não ciganos, com receio de sejam por isso descriminados.